terça-feira, 23 de agosto de 2011

Michael and Louise's Hopleaf Bar - Chicago




Se um dia voce visitar a incrivel cidade de Chicago e so' tiver tempo de ir em um bar pra tomar cerveja, o Hopleaf e' provavelmente a sua melhor opcao. Ele fica ao norte do centro da cidade (uptown), no numero 5148 da N. Clark Street e funciona impressionantes 365 dias por ano a partir das 3 da tarde. Pra quem quiser ir de metro (mais conhecido com "the El" em Chicago) deve pegar a linha vermelha e descer na parada Berwyn. De la sao seis quarteiroes a pe' ate' o bar.





Alem da enormidade de cervejas disponiveis e do cardapio bem selecionado, o lugar e' famosos pelos eventos e degustacoes que promove. Sao cerca de 40 torneiras com enfase em cervejarias americanas (principamente as regionais) e belgas. A lista de garrafas passa dos 250 rotulos.


Tive a oportunidade de conhecer esse templo da cerveja em novembro do ano passado, em uma noite de temperatura abaixo de zero, na iminencia de uma nevasca. O bar e' bem pequeno e aconchegante. Tem a parte terrea e um salao no segundo andar. As cervejas americanas que estao na pressao sao servidas em copos proprios do bar e as belgas sao servidas em seus respectivos copos originais.

O copo padrao do bar

A colecao de copos belgas

Sentamos no balcao mesmo e tive que comecar com uma Alpha King on tap, a melhor American Pale Ale do mundo, feita pela Three Floyds. Sempre que posso (agora nao posso mais pois estou de volta ao Brasil) eu abro os trabalhos com essa cerveja, que tem um drinkability estupendo e deve ser altamente procurada por todos os viajantes que passarem pelo meio oeste americano. A resenha sobre a Alpha King esta la atras nesse post: http://cervejasamericanas.blogspot.com/2010/06/three-floyds-brewing-co-melhor.html.


Pedimos uma tabua de queijos e nozes que estava excelente e continuei a noite com uma cerveja que eu estava procurando fazia um tempo (na epoca nao era disponivel em Washington), a New Belgium La Folie 2010.


Essa cerveja e' uma Sour Brown Ale da serie Lips of Faith, que tem uma "tiragem" menor que os rotulos disponiveis o ano inteiro. Fica maturando em barris de carvalho frances por cerca de 3 anos antes de ser engarrafada. Foi fortemente inspirada pela belga Rodenbach (que agora esta disponivel no Brasil). A edicao de 2010 ficou reconhecida nos foruns cervejeiros americanos por ter ficado mais azeda que as demais.

Coloracao marrom arroxeada e levemente translucida. A espuma e' bege clara e persiste por pouco tempo. A retencao por outro lado e' excelente nas laterais do copo.

Aroma potente, bem frutado e azedo ao mesmo tempo, com aquele "que" de acetona. Cerejas, uvas e maca-verde dominam. Me lembrou vinho do porto so' que sem aquele dulcor caracteristico.

O sabor ja comeca com uma bomba de azedo, nao ficando doce nunca. Muita acidez lactica com  notas frutadas entremeadas, lembrando muito maca-verde. No final ocorre uma transicao para compostos novamente frutados porem menos acidos, como cerejas e uvas vermelhas. O aftertaste deixa a boca salivando, pedindo o proximo gole.

O mouthfeel e' um pouco adstringente e o corpo mediano. A carbonatacao e' alta deixando o drinkability alto apesar da acidez.

Para os fas das sour beers (como esse que vos escreve) essa aqui e' um prato cheio. Parecidissima realmente com a Rodenbach Grand Cru, que e' sem nenhuma sombra de duvida uma das 5 melhores cervejas disponiveis hoje no Brasil.

Teor Alcoolico: 6.0%
IBU: 18
Preco: US$ 8.00 o copo.


Notas:


Aparencia: 8/10
Aroma: 9/10
Sabor: 9/10
Sensacao: 8/10
Conjunto: 9/10


Total: 8.6


E pra finalizar a noite mandei outra cerveja dificil de ser encontrada em Washington, a Salvation da Avery Brewing, la de Boulder, Colorado.
Ela faz parte da serie "Holy Trinty of Ales", cervejas fortes com tematicas religiosas,  da qual ainda fazem parte tambem a Hog Heaven Barleywine e a The Reverend Quadrupel.
A Salvation e' uma Belgian Golden Strong Ale nos moldes da Duvel.

Coloracao amarelo dourada escura, translucida, com algumas notas avermelhadas. Colarinho branco cremoso e abundante, como manda o estilo, com boa persistencia e excelente retencao.

Aroma forte com dominio dos esteres frutados do fermento belga: muito damasco, maca, pessego e banana. Um pouco de malte e biscoito e tambem spicy/peppery.

Sabor comeca adocicado com malte e um toque de caramelo. Notas frutadas comecam entao a aparecer, principalmente damasco, manga e pessego. No final o doce desaparece dando lugar a sabores mais "apimentados" e levemente amargos vindos tanto do lupulo como do proprio fermento.

Corpo mediano e final seco com algum alcool aparente. A carbonatacao, como nao poderia deixar de ser, e' bem alta e borbulhante.

No geral e' uma cerveja boa mas na minha opiniao ainda fica atras da Duvel, que e' o padrao do estilo. O fermento funcionou bem mas a achei um pouco doce demais no comeco e amarga demais no final, se e' que isso e' possivel hehe. Enfim, faltou mais equilibrio.

Teor Alcoolico: 9.0%
IBU: 25
Preco: US$ 8.00 o copo


Notas:


Aparencia: 9/10
Aroma: 8/10
Sabor: 7/10
Sensacao: 7.5/10
Conjunto: 7.5/10


Total: 7.8

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Bell's Oarsman Ale



Ja veterana aqui do blog, a excelente Bell's Brewing Company - do estado de Michigan, e' famosa por duas das melhores IPAs americanas e, por que nao, do mundo: a Two Hearted Ale (http://cervejasamericanas.blogspot.com/2010/03/bells-two-hearted-ale.html) e a Hopslam (http://cervejasamericanas.blogspot.com/2011/03/batalha-de-gigantes-bells-hopslam-vs.html).

Dessa vez vou escrever sobre uma de suas cervejas menos tradicionais, disponivel o ano inteiro, e que pode ser encontrada facilmente no meio oeste e regiao do atlantico norte dos EUA. E' a Oarsman Ale (cerveja do remador), uma "Pseudo" Berliner Weisse.


Pra quem nao sabe, este e' um estilo pouco alcoolico (cerca de 3%) feito com malte de trigo e originario da capital Alema. Tem a caracteristica marcante de ser azeda e refrescante (e' tomada com xarope doce de frutas). Sao poucas as cervejarias americanas que tentam a sorte e produzem uma quantidade representativa nesse "arriscado" estilo: alem da propria Bell's, temos a Dogfish Head com a Festina Peche (http://cervejasamericanas.blogspot.com/2010/03/dogfish-head-festina-peche.html), a New Glarus com a sua linha Unplugged e a The Bruery, com a Hottenroth.

Essa cerveja e' feita atraves de uma tecnica chamada de Sour Mash (Brassagem azeda), em que utiliza-se um pouco de mosto antigo contaminado com Lactobacillus para "ajudar" a fermentar o mosto novo. Pelo que eu li por ai, essa tecnica e' dificil de ser realizada por ser necessario que se retire o Oxigenio do mosto antes dele ir pro fermentador - caso contrario os microorganismos aerobicos acabam por dominar o Lactobacillus. 
No caso especifico da Oarsman, essa brassagem azeda e' feita com apenas uma parte da cerveja, e essa parte "contaminada" e' entao pasteurizada e readicionada a cerveja, para evitar que a fermentacao selvagem continue na garrafa.

A ideia por tras da realizacao da Oarsman foi a de se criar uma session ale (facil de tomar e com baixo teor alcoolico) refrescante que troque a intensidade de sabor pela finesse e delicadeza.  Como eu ja disse la em cima, ela leva uma boa parte de malte de trigo em sua composicao, um toque herbal de lupulos e e' fermentada com uma cepa de alta fermentacao/ale. 



Coloracao amarelo clara e levemente turva. Colarinho branco de um dedo que persiste relativamente bem. Parece bastante uma Pilsen nao filtrada. Aquela cor que,  em um dia quente, da sede so' de olhar.

Aroma pouco intenso e sem graca, com graos de trigo misturados com um estranho tom metalico e oxidado. O azedo e' pouco perceptivel, apenas algumas fracas notas citricas de limao.

Sabor igualmente sem graca, comecando com malte de trigo e pao que nao chega nem a ser doce. O que domina e' aquele gosto de cereal/grao nao maltados que eu particularmente abomino e que lembra ate' o milho das cervejas da Ambev. No meio do gole, transiciona para um azedo lactico muito fraco que mal consegue dominar o malte, apenas novamente um leve toque de limao. O final e' metalico e seco.

Corpo bem baixo e aguado, com carbonatacao alta. 

No geral uma cerveja bem ruim, que sem duvida melhoraria se estivesse mais gelada (devo te-la tomado a uns 8 graus C). Acho bem valida a ideia de se fazer estilos diferentes e tecnicas pouco utilizadas mas dessa vez o tiro saiu pela culatra. A composicao de maltes e' mal escolhida (poderia ser mais doce) e a parte azeda nao adicionou em nada para o conjunto. Faltou um pouco de corpo tambem. Diferentemente do Brettanomyces, acho que o azedo do Lactobacillus sp. nao funciona em baixas quantidades. Ou faz ela bem azeda ou nao faz. Me pergunto se nao peguei uma garrafa ruim naquele dia pois a achei meio oxidada e metalica.

Teor Alcoolico: 4.0%
Preco: US$ 4.00 no bar (pelo menos e' barata).




Notas:

Aparencia: 7/10
Aroma: 3/10
Sabor: 4/10
Sensacao: 4/10
Conjunto: 4/10

Total: 4.4

 




segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Stillwater Artisanal Ales - Cellar Door

A Stillwater Artisanal ales e', como a Pretty Things Beer and Ale Project, uma cervejaria Gipsy mais ou menos baseada em Baltimore, pertinho de Washington.


O dono e unico funcionario, Brian Strumke e' considerado um visionario e ganhou do Ratebeer o titulo de segunda melhor nova cervejaria do mundo - agora em 2011.  Assim como os dinamarqueses da Mikkeller, ele vai de cervejaria em cervejaria "alugando" tanques vazios e faz suas proprias receitas em quantidades pequenas. Sua inspiracao sao os estilos belgas - inclusive tendo produzido algumas de suas cervejas naquele pais. Devido a sua "capacidade" volumetrica reduzida, Strumke ousa bastante em suas receitas, que muitas vezes fogem aos estilos tradicionais, com abuso na adicao de especiarias e de ingredientes peculiares, como flores.

Cheguei a tomar algumas de suas cervejas la nos EUA e gostei muito. Elas sao bem aromaticas, inovadoras e vao muito bem no pareamento com a alta cozinha.


Cellar Door

Considerada por muitos estudiosos como a expressao foneticamente mais bonita da lingua inglesa (Se voce assistiu o filme Donnie Darko deve-se lembrar dessa historia), Cellar Door (porta do celeiro) da o nome para uma Saison da Stilwater.
Brian quis uma cerveja bela e "clean" para inaugurar sua linha de cervejas de verao, portanto mais leves e com maior drinkability do que suas parceiras sazonais de inverno. Mas apesar de mais leve, ele nao quis que ela perdesse em complexidade. Portanto fez sua receita com maltes pale e trigo alemaes, lupulou-a com um blend de Citra e Sterling e a terminou de temperar com salvia branca. Tudo isso foi entao fermentado por sua levedura de saison para um final bem seco.



Coloracao dourada escura e levemente turva. Apresenta espuma cremosa que persiste por pouco tempo, mas com boa retencao no copo.

Aroma interessantissimo altamente derivado do fermento e especiarias. Muitas notas citricas, apimentadas, erva cidreira, salvia, alecrim e um pouco de madeira.

O sabor inicial e'  um frutado refrescante e levemente azedo/citrico, com notas de uvas verdes, grapefruit, pera e maca-verde. Segue com mais fenols de fermento e especiarias que dominavam o aroma: salvia, alecrim e coentro. Termina entao um pouco mais adocicada com notas de pao e biscoito vindas dos maltes. Lupulos citricos americanos sao pouco perceptiveis e as especiarias continuam no aftertaste para contrabalancear o dulcor.

O mouthfeel e' bem seco, com baixo corpo e alta carbonatacao.

No geral uma boa e complexa Saison, um dos estilos mais abertos a interpretacao de seus criadores. Essa aqui e' um dos melhores exemplos norte americanos que eu tomei (inclusive melhor e mais equilibrada que a Saison du Buff - http://cervejasamericanas.blogspot.com/2010/09/saison-du-buff.html).

Nao chega a ter aquela deliciosa pegada de fermentacao selvagem presente em alguns exemplares do estilo, porem a boa combinacao de lupulos e especiarias substituem o funky selvagem primorosamente. Queria ter mais acesso a cervejas como essa por essas bandas.

Teor Alcoolico: 6.6%
Preco: US$ 7.00 a taca, no bar.


Notas:


Aparencia: 8/10
Aroma: 8/10
Sabor: 9/10
Sensacao: 8.5/10
Conjunto: 9/10


Total: 8.5