quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Degustube - Episódio 3 - New Belgium La Folie vs Rodenbach Grand Cru

No terceiro episódio da nossa série de video-degustações, apresentamos uma análise comparativa entre a New Belgium La Folie 2011 e a cerveja na qual ela foi inspirada, a Rodenbach Grand Cru.

Adoramos sour beers e essa degustação foi especial. A La Folie versão 2010 ja passou aqui pelo blog nesse post.

       

terça-feira, 6 de novembro de 2012

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Degustube - Episódio 1 - Goose Island Pepe Nero

Um novo segmento do Blog se inicia hoje.

É o DEGUSTUBE - projeto de degustação em video feito por mim e pelo meu irmão Philip Zanello que é juiz do BJCP e cervejeiro caseiro, além de também assinar o blog notícias cervejeiras.

Espero que gostem do resultado, que com certeza ainda vai melhorar conforme formos pegando o jeito da coisa.

A príncipio postarei no blog apenas os videos de degustações de cervejas americanas, mas a idéia é expandir o rol de cervejas e promover uma "referência de comparação" para quem está aprendendo a beber cervejas especiais assistir enquanto toma a mesma cerveja do episódio.

Segue então nosso primeiro episódio com a cerveja Pepe Nero, da Goose Island de Chicago.


terça-feira, 16 de outubro de 2012

Allagash Victor



Essa é uma daquelas cervejarias americanas que têm um algo a mais. Sempre que encontro cervejas da Allagash eu tento comprar ou beber on tap.

Muitas ja passaram aqui pelo blog como a melhor Witbier do mundo (White) e a sensacional Curieux,  além da Dubbel, da Confluence e da Black.

O legal da Allagash é a experimentação com estilos e leveduras selvagens. São, salvo engano, a única cervejaria fora da Europa que produz cervejas com fermentação expontânea no mais classico estilo da Cantillon. São as cervejas da série Coolship (nome dado a "piscina" onde a cerveja fermenta)  que são muito dificeis de se conseguir mesmo dentro dos EUA.

A cerveja deste post, a Victor, faz parte da Tribute Series, uma serie especial onde de cada cerveja vendida, a Allagash doa 1 dolar para uma determinada instituição de caridade. No caso da Victor, a instituição é o St. Lawrence Arts Center, uma igreja com arquitetura Romanesca de 1897 que fica na mesma cidade da cervejaria - Portland, Maine. Hoje é usada como teatro e casa de shows e exposições.


A Victor surgiu com inspiração e continuação  de outra cerveja da mesma serie, a Victoria.

A Victoria é uma "fusão" de cerveja e vinho, tendo uvas Chardonnay (brancas) adicionadas ao malte na brassagem e fermentadas por leveduras belgas.

Ja a Victor segue a mesma linha, mas tem uvas cabernet franc (vermelhas) também adicionadas na brassagem ao malte pilsen. É lupulada com Fuggles e Hallertau e fermentada por uma cepa de levedura de vinho.

Rotulo simples e clássico, lembrando um vinho




Aparência translucida com coloração amarelo-escura / alaranjada. Forma cremoso colarinho quase branco que apresenta persistência e retenção acima da media.

Versão 2011.

Aroma bem esterificado e "belga" com perfil de frutas (pera, uva, maçã) e especiarias. Não consegui perceber muito bem as uvas. Aromas de malte/grão em segundo plano.

Sabor se inicia com malte adocicado / pão e persiste com notas frutadas de fermento, principalmente maçã, pera e pêssego, lembrando uma cidra em alguns momentos. Leves e sutis toques de uvas são também perceptíveis. Finaliza levemente amarga com algumas notas vinhosas.

Seu corpo é mediano com carbonatação media a baixa. Mouthfeel excelente com textura aveludada que desce cremosamente pela garganta. O Alcool está muito bem inserido trazendo agradável sensação de calor após cada gole.

No geral uma cerveja bem feita, sem nenhuma falha. Mas considerando que se trata da Allagash e olhando o processo e os ingredientes, posso dizer que esperava bem mais. Não deixa de ser uma boa cerveja de se beber, mas nada diferente do usual.

Teor Alcoolico: 9.0%
Preço: 15 dolares a garrafa de 750 ml.



Notas:

Aparência: 7/10
Aroma: 7/10
Sabor: 7/10
Sensação: 8/10
Conjunto: 7/10

Total: 7.2

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Kona Brewing Co. - Hawaii

O movimento micro-cervejeiro dos EUA, iniciado no final da década de 70 tomou proporções tão grandes que hoje existem cervejarias artesanais em todos os estados norte americanos, inclusive no Alaska e no Hawaii. E é justamente no Hawaii que fica a Kona Brewing Co., que juntamente com a Maui Brewing Co., produz as melhores cervejas do oceano pacífico.



Kona é um dos distritos da maior ilha do arquipelago do Hawaii (chamada de Big Island ou Hawaii Island - é a ilha do canto inferior direito do mapa acima) e famosa pela produção de café.  É portanto nessa região que fica a cervejaria, fundada em 1995 e cercada de vulcões, vegetação nativa e águas cristalinas.

A cervejaria na Big Island
Foto: Konaonenalo.com

Quando fui para o Hawaii em janeiro de 2011 acabei não indo a Big Island (e consequentemente a cervejaria). Fiquei somente em Oahu,  a ilha mais populosa e mais famosa. Em Oahu, porém, há um Brewpub/Restaurante da Kona que fica em um complexo comercial no sudeste da ilha chamado de Koko marina.
É um pub com 24 taps que serve todas as receitas produzidas pela Kona.

O Brewpub em Koko Marina
Foto: thedailygreen.com

Tive a oportunidade de jantar nesse brewpub e tomar algumas cervejas da Kona. O ambiente é bem informal e típico de um bar de cervejas dos EUA. O cardápio é centrado em frutos do mar e comidas da região, com bastante uso de frutas e saladas. Pra ser sincero a comida não estava muito do nosso agrado, minha namorada pediu uma salada com camarões e tínhamos quase certeza que usaram camarões congelados. Pedi um sanduíche que estava ok, nada absurdo.

Mas as cervejas estavam boas e o lugar é bem bonito, com certeza vale a visita se alguém tiver a oportunidade de ir pro Hawaii (que aliás eu recomendo muito).

Aqui vão algumas fotos:

Fachada de entrada

Gift Shop

Bar

Vista da nossa mesa

Por do sol que vimos antes de ir para o pub

Ja tinha avaliado uma cerveja da Kona aqui no blog. Foi a Fire Rock Pale Ale. Você pode relembrar aquela avaliação aqui.
La no brewpub acabei tomando a Big Wave Golden Ale e a Da Grind Buzz-Kona, uma imperial stout feita com café local, só disponível on tap na região. Aqui vão minhas impressões:

Kona Big Wave Golden Ale:


É uma golden ale leve que usa maltes pale (2-row) e honey malt. Os lúpulos são Northern Brewer, Willamette e Hallertau.

Coloração amarelo-escuro brilhante, cristalina. Formou 1 dedo de colarinho que se dissipou rapidamente. A retenção lateral ficou abaixo das expectativas para o estilo.

Aroma bem suave e "clean" com notas de malte, grão e cereais e leves toques de lupulo floral.

O sabor segue mais ou menos o aroma com um início focado em maltes - com notas de pão, biscoitos e cereais - e evolui com um certo dulçor e notas de mel mais pro final do gole. Finaliza seca com notas herbais discretas e algum amargor dos lupulos.

Corpo medio a baixo com media carbonatação. Bom drinkability.

No geral é uma golden ale com alta palatabilidade, mas faltaram mais notas frutadas de fermento, típicas do estilo. Para mim me pareceu uma lager mais maltada com sabores bem comedidos.

Teor Alcoolico: 4.4%
IBU: 21
Preço: 4 dolares o copo

Notas:

Aparência: 7/10
Aroma: 6/10
Sabor: 6/10
Sensação: 7/10
Conjunto: 6/10

Total: 6.4


Da Grind Buzz-Kona:


Como eu disse acima, essa é uma imperial stout feita exclusivamente para o brewpub, e usa o próprio café produzido em Kona.

Aparência opaca com cor marrom bem escura, quase negra. O colarinho é cremoso e persistente, ficando em 1 dedo por um bom tempo (vide a foto). Retenção lateral acima da media.

O aroma é intenso porém bem unidimensional e pouco complexo, com notas de malte escuro torrado e café.

Sabor incial de malte escuro, torrefação e algum dulçor, seguidos de fortes notas de café espresso, o que confere um certo amargor ao final da cerveja (provavelmente há alguma contribuição da lupulagem também). Finaliza seca e adstringente.

O mouthfeel foi sem duvida a melhor parte da cerveja, com uma textura aveludada e cremosa que me fez pensar que ela foi servida no nitrogênio (acabei não verificando essa informação).

O corpo foi o principal problema na minha opinião. Ficou muito baixo para uma imperial stout. Apesar disso elevar o seu drinkability, o conjunto final ficou meio estranho, parecia uma versão um pouco mais pesada da Guinness com um "dry-coffee" intenso. A carbonatação é baixa e cremosa. Alcool pouco perceptivo.

No geral, apesar de algumas falhas de caracterização dentro do estilo, foi uma boa pedida para aquela ocasião. É sempre bom provar cervejas frescas feitas com ingredientes locais.

Teor Alcoolico: 8.5%
Preço: 6 dolares o copo



Notas:

Aparência: 9/10
Aroma: 7/10
Sabor: 7/10
Sensação: 8/10
Conjunto: 7/10

Total: 7.6


Representando o Brasil na cena cervejeira do Hawaii!







quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Estilos inovadores: Imperial Pumpkin Stout



As cervejarias artesanais dos EUA são conhecidas pela inovação e pela constante recriação e reinvenção dos estilos ja consagrados no mercado.
Recentemente meu irmão Phil, do blog Notícias Cervejeiras, adquiriu em viagem aos EUA um exemplar no mínimo curioso - uma Imperial Pumpkin Stout. Foi a primeira vez que tínhamos ouvido falar desse estilo.

A cerveja em questão é feita pela Cape Ann Brewing, da charmosa cidade portuária de Gloucester, MA (pronuncia-se Glóster). As cervejas da Cape Ann são todas batizadas de Fisherman's Beer (mais ou menos como a Boston Beer Co. chama suas cervejas de Samuel Adams). É um pequeno brewpub / cervejaria na cidade que é totalmente voltada para a pesca e para o turismo.

Imperial Stouts todos nós conhecemos, assim como as Imperial Pumpkins (que não são la tão comuns  quanto a sua versão mais leve, as Pumpkin Ales). Agora Imperial Pumpkin Stout, essa foi pioneira. E o pior é que, se pararmos pra pensar, até que a ideia é boa e ja foi muito explorada no mundo das sobremesas (vide a foto acima). As notas de chocolate e malte torrado das Imperial Stout casariam bem com os sabores adocicados e as especiarias utilizadas nas Pumpkins. Mesmo assim, abrimos a garrafa com um "pé atrás".


Essa receita é uma Imperial Stout de 11% de alcool, feita com a adição de pedaços de abóbora e temperos como canela, noz moscada e all-spice.



Coloração negra e opaca, com alguns tons alaranjados escuros quando olhada contra a luz. A mais escura cerveja de pumpkin que eu ja vi. O colarinho é marrom-claro com média a baixa persistência e retenção.

O aroma é fortemente puxado para as especiarias (pumpkin spice), com notas de noz-moscada, cravo, canela e cardamomo. Também um pouco de abóbora perceptível. Maltes torrados ficam em segundo plano. Mas se eu estivesse com os olhos vendados, falaria sem titubear que se trata de uma Pumpkin Ale. E das boas.

Ja o sabor tem mais stout. Começa com malte torrado, chocolate, toffee, frutas escuras e melaço. Em seguida uma grande avalanche de temperos, novamente com a noz-moscada, canela e cardamomo. Finaliza com as especiarias junto com algum amargor terroso de lupulo, assim como tenues notas "quentes" de alcool e certa adstringência. Há leve dulçor residual.

Corpo mediano a alto com carbonatação baixa. O mouthfeel é bem aveludado e suave. Drinkability mediano.

No geral ela surpreendeu positivamente.  O equilibrio entre as notas de malte escuro e os temperos ficou certinho e bem pouco enjoativo. Esconde adequadamente seu teor alcoolico. Ficaria ótima com sobremesas e pratos doces.

Teor Alcoolico: 11%



Notas:

Aparência: 7/10
Aroma: 9/10
Sabor: 8/10
Sensação: 8/10
Conjunto: 8/10

Total: 8.0


quarta-feira, 1 de agosto de 2012

The Bruery Mischief

Ja falei aqui no blog dessa cervejaria a "The Bruery", de Placentia, California. É uma artesanal que apostou fundo no formato não filtrado de 750 ml, com refermentação na própria garrafa.  Sempre tendendo a produzir cervejas diferentes da maioria das outras micros americanas, a Bruery (trocadilho com o sobrenome "Rue" e a palavra "brewery") é sem duvida nenhuma uma das mais inovadoras e respeitadas novas cervejarias dos EUA.


A Mischief, a cerveja deste post, é uma Belgian Golden Strong Ale com dry hop de lúpulos americanos, mas sem perder a identidade belga no sabor e aroma.


A aparência da cerveja varia muito se você pegar o primeiro ou o último copo da garrafa. Inicialmente ela é bem cristalina com coloração dourada brilhante, ja pro final da garrafa, devido aos sedimentos e fermento, ela fica bem mais turva. O colarinho é bem abundante, branco e cremoso, com boa persistência e ótima retenção.

O aroma é uma mistura de notas apimentadas, condimentadas e frutadas, com lupulo floral aromático.

Sabor inicial de malte, pão e biscoito com notas apimentadas e condimentadas de fermento belga e tons cítricos de limão e laranja. Finaliza com amargor moderado e carbonatação alta e efervescente.

Mouthfeel bem seco e adstringente, com um aftertaste condimentado e amargo. Corpo mediano e alta carbonatação.

No geral, mais uma excelente cerveja vindo da California. Essa tem foco exclusivo nos fermentos e seus subprodutos. Um ótimo exemplo do que uma strong golden ale deve ser, com um toque lupulado a mais.

Teor Alcoolico: 8.5%
IBU: 35


Notas:


Aparência: 8/10
Aroma: 8/10
Sabor: 8/10
Sensação: 8/10
Conjunto/Estilo: 7/10


Total: 7,8



quarta-feira, 11 de julho de 2012

Founders Dirty Bastard



Ando sempre falando e martelando aqui no blog que a cervejaria Founders do estado de Michigan é, na minha opinião, a melhor cervejaria do mundo.  Dêem uma olhada no video:

                           
                       Founders Brewing: The Story from Founders Brewing Co. on Vimeo.


A Dirty Bastard é um dos pioneiros e mais populares rótulos da "linha de frente" da cervejaria, uma Strong Scotch Ale / Wee Heavy disponível durante o ano inteiro. Com um nome que se traduz como "bastardo sujo" a Founders ficou proibida de comercializar a cerveja (assim como a sua versão maturada em barris chamada Backwoods Bastard) no estado do Alabama. Após uma batalha judicial a proibição foi retirada ha alguns meses.




Feita com 7 tipos de malte, com um teor alcoolico de 8.5% e 50 IBUs de amargor, é um típico exemplo da releitura norte-americana de um dos clássicos estilos europeus, a Scotch Ale.




Coloração marrom escura / mogno com tons avermelhados e certa translucidez (lembra Iced Tea), forma espuma marrom-clara com boa persistência.

O aroma é de caramelo, nozes, castanhas, toffee, bem como notas leves de frutas vermelhas e fumaça, tudo permeado por notas voláteis de alcool.

O sabor tem novamente forte presença de caramelo, toffee, frutas escuras e pitadas de defumado, dando lugar a notas amargas e terrosas no final do gole. Há também uma certa acidez dos maltes torrados.

Corpo medio a alto bem como a carbonatação. Tem mouthfeel melado e grudento com toques de adstringencia no final do gole. O balanço entre malte e amargor é bom, talvez pendendo um pouco demais para o lado amargo para o meu gosto. Alcool um pouco aparente demais também.

No geral uma bela cerveja (aparência e aroma impecáveis) mas talvez uma das minhas "menos favoritas" no excelente rol de ofertas da Founders. Acho que deveria ser um pouco mais doce e menos alcoolica.

Teor Alcoolico: 8.5%
IBU: 50
Preço: US$ 9.99 o six pack




Notas:

Aparência: 9/10
Aroma: 9/10
Sabor: 7/10
Sensação: 6/10
Conjunto: 7/10

Total: 7.6

terça-feira, 3 de julho de 2012

Nectar Ales - Black Xantus





A Nectar Ales é uma pequena cervejaria artesanal originalmente localizada no norte da California. Foi fundada em 1987 e portanto é considerada uma das pioneiras do movimento micro-cervejeiro norte americano. Sua Amber Ale chamada Red Nectar, juntamente com a Sierra Nevada Pale Ale e Anchor steam beer, foi uma das primeiras cervejas a despontar no mercado californiano ainda no final da decada de 80 para competir com as industrial lagers.

A cervejaria original não existe mais. Em 2003 a marca Nectar Ales, seus direitos comerciais e receitas  foram compradas pela Firestone Walker Brewing Company - também da California - que as produz em sua própria cervejaria e as vende pelo seu sistema de distribuição. Hoje a Firestone tem muito mais nome que a Nectar mas achei muito legal eles continuarem a produzir as cervejas pioneiras como uma espécie de homenagem a marca.


Essa garrafa de Black Xantus foi um presente dado ao meu irmão pelo Matt Brynildson, mestre-cervejeiro da Firestone Walker e portanto da Nectar Ales também. Ela é uma Imperial Stout sazonal envelhecida em barris de carvalho americano com infusão de grãos de café orgânico locais. Apenas 400 caixas são produzidas por ano. Chega aos mercados em setembro.


Coloração bem negra e densa, com aspecto viscoso, pouca carbonatação. Tons avermelhados quando olhada contra a luz. Forma espuma marrom clara bastante cremosa e de bolhas finas, que persistiu por cerca de um minuto para então dar lugar a uma fina camada de superfície. Ótima retenção.

Aroma potente de malte escuro, melaço, tabaco/charuto, e uma potente pegada de baunilha e carvalho. Nota-se algum alcool volátil no final.

Sabor segue mais ou menos o aroma com notas iniciais de malte escuro torrado, chocolate meio-amargo, tabaco, baunilha, madeira e bourbon. Tem final longo e persistente com notas de café e alcool leve, produzindo sensação de calor não agressivo ao engolir.

Corpo mediano a alto, definitivamente menor do que a maioria das imperial stouts americanas. A carbonatação é moderada a baixa e bem cremosa e aveludada, perfeita. Alcool pouco aparente sem prejudicar o todo. Drinkability mediano e acima da media para o estilo.

Excelente cerveja que por ficar na "sombra" das Firestone Walker não recebe todo o crédito que deveria. Complexa e com ótimas notas de madeira, baunilha e bourbon.


Notas: 


Aparência: 8/10
Aroma: 9/10
Sabor: 8/10
Sensação: 9/10
Conjunto: 9/10


Total: 8.6



terça-feira, 29 de maio de 2012

Bootleggers Beer Dinner 2011

 

Adoro cervejas americanas. Isso vocês ja sabem. Mas uma das coisas que deixa a cultura micro-cervejeira norte americana ainda mais interessante é a regionalidade das produções que muitas vezes são pequenas e tem estímulos para o consumo local, evitando assim gastos desnecessários com transporte e reduzindo a chance de espólio do nobre líquido, quase nunca pasteurizado (o que é exceção por aqui, é regra por lá).

Assim, quase não se consegue comprar uma Russian River longe da California, uma Three Floyds longe da região de Chicago e uma New Glarus fora do estado de Wisconsin. 

Forma-se então um verdadeiro mercado beer-geek de escambo por Fedex/UPS, com muitas trocas de rotulos, prática endossada pelos dois maiores sites de avaliações de cerveja, o Beeradvocate e o Ratebeer.

Foi baseado nesse princípio que o grupo mais famoso de Beer-geeks de Washington DC (http://dcbeer.com/) resolveu organizar um jantar de harmonização com algumas das mais famosas cervejas americanas que NÃO são disponíveis na região metropolitana de DC. Todas as garrafas foram compradas / trocadas pela internet, e alguém fez o "resgate" de carro através do país. O Line-up de peso incluiu:

Russian River Blind Pig
Alesmith Yulesmith Winter
Russian River Pliny the Elder
Deschutes The Abyss 2010
Cigar City Marshal Zhukov's Imperial Stout



As cervejas, nessa ordem, foram devidamente pareadas com 5 pratos diferentes, todos desenvolvidos pelo restaurante Scion (http://www.scionrestaurant.com/). O custo total foi de 65 dolares por pessoa, sem incluir as taxas e a gorjeta. Segue uma foto do Flyer do evento:

       

E fui la eu, naquele dia 1 de fevereiro de 2011, tomar algumas das cervejas sobre as quais eu lia há muito tempo mas ainda, depois de um ano nos EUA, não tinha conseguido tomar. A minha felicidade era extrema. Sem duvida foi uma das melhores experiencias gastronomico-cervejísticas da minha vida!

Segue o relato completo...

Pareamento numero 1: Russian River Blind Pig com Sriracha Devilled Eggs

Devilled Eggs é um prato tipicamente servido como uma entrada. É basicamente um ovo cozido que tem a gema retirada e misturada com outros condimentos e especiarias como maionese, mostarda, molho ingles, molho tártaro ou outras ervas / pimentas. Essa versão do jantar era servida com um toque do molho de pimenta Sriracha ou "Rooster Sauce" - um molho tipicamente encontrado em restaurantes orientais dos estados unidos. Pra quem não conhece essa pimenta, vale a pena garimpar uma garrafinha e trazer na mala, ótimo custo benefício com um sabor picante delicioso.





Essa é a IPA de linha da RR, disponível o ano inteiro. Eles até fazem outra IPA, chamada simplesmente de Russian River IPA, que é um pouco menos seca que a Blind Pig e apenas disponível on tap na região da cervejaria.

A Blind Pig tem coloração amarelo brilhante com tons alaranjados e é bem cristalina. Forma colarinho beige (coloração bem típica de cervejas ultra-lupuladas) que tem boa formação e retenção.

Seu aroma vem basicamente dos lupulos citricos do noroeste americano, com muitas e potentes notas de grapefruit, tangerina, limão e laranja. Excelente.

Na boca, ja começa bastante frutada e citrica, novamente com as notas de grapefruit e tangerina predominando. O amargor é surpreendentemente baixo, tornando essa cerveja uma verdadeira vitrine para o que o lupulo pode trazer ao drinkability. É quase como tomar um suco de frutas cítricas....lembrando que não estamos falando de uma fruit beer.

Seu corpo é insanamente baixo para uma IPA que tem 6.1% de alcool. Mouthfeel seco e residual doce inexistente. A carbonatação é media a alta. Aftertaste delicado de pinhal e frutas cítricas.

Essa talvez seja uma das, senão A mais equilibrada american IPA disponível no mundo. Não chega a ser a mas explosiva, ou a mais lupulada do estilo, mas seu drinkability é algo fora de série. Infelizmente a sua "irmã maior", a double IPA Pliny the Elder, criou uma fama tão grande que acabou privando-a daquela que merece.

Teor Alcoolico: 6.1%

A harmonização ficou muito boa, no ja classico casamento de IPAs bem secas com comidas gordurosas e apimentadas.


Notas:


Aparência: 8/10
Aroma: 8/10
Sabor: 8/10
Sensação: 10/10
Conjunto: 10/10


Total: 8.8


Pareamento numero 2: Alesmith Yulesmith Winter 2010 com Gnocchi de batata-doce e molho de manteiga com cerveja.


A Yulemsith é a mais popular das cervejas sazonais da Alesmith Brewing Company, de San Diego - California. Ela é feita duas vezes ao ano e em duas versões: uma no verão (Yulesmith Summer) que é uma Imperial IPA e uma no inverno (Yulesmith Winter) que é uma Imperial Red Ale mais maltada, mas que também tem contribuição importante de lupulos no sabor e aroma.



Verteu líquido marrom-acinzentado com notas âmbar, totalmente turvo, formando pouco ou quase nada de colarinho mesmo após eu girar a taça algumas vezes. Retenção também nula. Talvez uma das cervejas mais feias que eu ja tenha visto, lembrava água de esgoto. Por ser uma cerveja que sofre refermentação na garrafa talvez esse exemplar tenha sofrido alguma alteração que influenciou sua formação de espuma.

Aroma sensacional e adocicada, um mix de caramelo, toffee, chocolate e lupulos frutados bem frescos. Imaginem mergulhar um picolé de chocolate com caramelo em uma calda de frutas cítricas. É mais ou menos isso o aroma dessa cerveja. Lindo.

O sabor é predominantemente maltado inicialmente com notas doces de chocolate, malte cristal, caramelo, toffee e butterscotch. Em seguida, os lupulos americanos atuam como um excelente coadjuvante, balanceando o malte com notas de frutas tropicais (manga e pêssego) e amargor moderado.

Corpo mediano com carbonatacão media a baixa. Final bem herbal e refrescante, com aftertaste levemente amargo e dominado por notas de malte torrado e um quê amanteigado/ butterscotch. Teor alcoolico bem escondido.

Além de provavelmente ser a cerveja mais feia que eu ja vi, é sem dúvida nenhuma a melhor cerveja feia que eu ja tomei. Fica mais pro lado do malte em seu balanço com o lupulo, com ótimos aromas e sabores vindo de ambos os ingredientes.

Teor Alcoolico: 9.5%

De todas as harmonizações da noite essa foi a melhor. O dulçor inicial da cerveja casou muito bem com o recheio de batata-doce do Gnocchi e as notas amanteigadas harmonizaram com o molho da massa. Os lupulos funcionaram para cortar o doce da mistura.




Notas:


Aparência: 5/10
Aroma: 9/10
Sabor: 9/10
Sensação: 8/10
Conjunto: 9/10


Total: 8/10



 Pareamento numero 3: Russian River Pliny the Elder com Ostras gratinadas com queijo Parmesão Reggiano


Se você nunca ouviu falar da Double IPA chamada Pliny the Elder, saiba que é provavelmente a cerveja mais famosa e desejada entre os beer-geeks do mundo. Criada em 2000 por Vinnie Cilurzo para uma competição somente de Double IPAs, virou artigo raro e "cult" não só por sua qualidade (siga lendo para ver minhas impressões) mas também pela dificuldade de se conseguir uma garrafa. Apesar de ser produzida o ano inteiro, sua distribuição é restrita, salvo algumas exceções, a pontos de venda que ficam nos estados proximos da California (A Russian River fica no norte do estado, em Santa Rosa). Essa "restrição" é intencional: a Pliny é a cerveja que mais bate na tecla do frescor (vide seu rótulo nas fotos abaixo). Por ser fortemente centrada nos sabores e nuâncias dos lúpulos, ela deve ser consumida o quanto antes, e não aguentaria manter a qualidade se fosse enviada rotineiramente a grandes distancias.

Seu nome é uma homenagem a Plínio o idoso, filósofo e naturalista romano que viveu no século 1 e foi o primeiro homem a reconhecer e catalogar o lupulo, inclusive batizando a planta em referência aos lobos (lupus salictarius). Diz a lenda que a erva selvagem crescia entre os outros arbustos assim como os lobos solitários que perambulavam pelas florestas. Plínio morreu salvando outras pessoas durante a erupção do Monte Vesúvio em 79 DC.

A Russian River ainda possui uma Triple IPA sazonal (essa sim é A cerveja mais dificil de ser bebida no mundo) chamada Pliny the Younger, que só sai on tap uma vez ao ano e acaba em questão de horas.  O nome é por sua vez referência ao filho homônimo de Plínio, que seguiu e propagou os ensinamentos do pai.

A "PtE" como é carinhosamente conhecida em foruns de cerveja, é feita com as variedades de lúpulo Amarillo, Centennial, CTZ e Simcoe.



Aparência translucida com coloração laranja claro com tons dourados. Forma bonito colarinho de cor beige clara que tem boa formação, persistência e retenção.

Aroma explosivo de frutas cítricas, principalmente tangerina e grapefruit, com notas pungentes pinhais acompanhando. Percebe-se também um pouco de malte com notas adocicadas que vão aparecendo com o aumento da temperatura. Ótimo balanço.

Sabor novamente dominado por lúpulos cítricos com presença forte de laranja, abacaxi, grapefruit, pinhal, tangerina e grama recém cortada. O amargor vem em seguida mas sempre de maneira suave e balanceada, nunca agredindo o palato. Final seco e levemente apimentado. O aftertaste é também frutado e persistente.

Corpo com percepção baixa e mouthfeel delicado, com media carbonatação. Sem exagerar nem um pouco, a cerveja aparenta ter uns 5% de alcool. Drinkability absurdo!

Ela corresponde as expectativas e ao seu hype? Em parte. Assim como a Blind Pig, considero a Pliny a cerveja perfeita em termos de mouthfeel e drinkability. Ja em termos de perfil de aroma e sabor de lupulo, ela - apesar de ser muito boa - ainda perde para outras cervejas do mesmo estilo, algumas que me vem a mente agora são a Double Jack e a Hopslam.

Mas não resta duvida que está entre as grandes cervejas do planeta. Minha nova missão agora é a de toma-la na pressão.

Teor Alcoolico: 8.0%

A harmonização com as ostras com parmesão ficou boa, mas não excepcional como a ultima. Aquele picante do queijo foi balanceado pelo amargor da cerveja.



Notas:


Aparência: 8/10
Aroma: 8/10
Sabor: 9/10
Sensação: 10/10
Conjunto: 10/10


Total: 9/10


Pareamento numero 4: Deschutes The Abyss 2010 com Filet au Poivre (medalhão de filé mignon com pimenta do reino e molho cremoso de funghi com Brandy)


Outra cerveja extremamente "Cult" e concorrida, a Deschutes The Abyss é produzida todo ano no inverno. É considerada por muitos como a melhor Imperial Stout do mundo, desbancando nomes fortes como 3F Dark Lord, Surly Darkness, Firestone Walker Parabola e Stone Imperial Russian Stout.
Quando vi que eu finalmente iria conseguir toma-la não pude deixar de ir nesse jantar.

Ela leva melaço e alcaçuz na receita e tem 1/3 de seu conteúdo maturado em barris de carvalho e bourbon.



Coloração totalmente escura e opaca, com aspecto viscoso e ótima formação de um colarinho marrom-claro que apresenta ótima retenção e persistencia, deixando um anel cremoso na superfície.

Aroma extremamente complexo: malte escuro torrado, chocolate, melaço, carvalho/bourbon, fumaça e uma pitada de álcool volátil. Não sei porque mas ao sentir o seu cheiro me lembrei daquele aroma marítimo que se sente no litoral, talvez por seu aspecto mineral...mas estou divagando - em resumo, ela tem um aroma fenomenal.

Sabor de malte escuro, melaço, chocolate, frutas escuras, alcaçuz, malte defumado, madeira e finalizando com notas de café. Ainda melhor que o aroma! Percebo um pouco de notas lupuladas bem pro final do gole. As notas de bourbon não são aparentes como no aroma.

Corpo extremamente alto e complexo, com carbonatação media a baixa. Sensação de calor após o gole.

Imperial Stout top de linha, provavelmente uma das melhores cervejas, ou melhor - um dos melhores líquidos que eu ja pus na boca. Aroma, sabor e complexidade perfeitas e dentro do que o estilo pede. Imperdível!

Teor Alcoolico: 11.0%
IBU: 65

A harmonização ficou um pouco desbalanceada em detrimento do filé au poivre. Suas notas mais delicadas (do funghi) e spicy (da pimenta) foram dizimadas pelo alto corpo da cerveja.



Notas:


Aparência: 8/10
Aroma: 10/10
Sabor: 10/10
Sensação: 9/10
Conjunto: 9/10


Total: 9.2




Pareamento numero 5: Cigar City Marshal Zhukov's Imperial Stout e Torta de Chocolate e Noz Pecan com Bourbon



Pra finalizar a noite veio a Marshal Zhukov, Imperial Stout de uma das mais novas e comentadas cervejarias artesanais americanas, a Cigar City Brewing, que fica em Tampa, na Florida.

Recentemente o Maurício Beltramelli do site BREJAS, fez uma visita a essa cervejaria e escreveu suas impressões aqui.

Essa Imperial Stout é sazonal de verão (justamente para que seja guardada por 6 meses para ser tomada no inverno) e somente disponível on tap e em garrafas de 750 ml. Seu nome faz homenagem a Zhukov, um dos mais famosos generais russos da 2a guerra mundial.



Coloração negra e totalmente opaca, com mínimo colarinho de aspecto marrom avermelhado que persiste por pouco tempo deixando apenas um fina película na superfície. Retenção quase zero. O aspecto do líquido é bem oleoso e grudento.

Aroma de malte torrado, azeitonas (?), lupulos herbais e madeira.

Sabor meio diferente do que imaginava, iniciando-se com malte escuro e melaço e seguindo com uma certa adstringência vinhosa que chega a ser um pouco azedo. No meio do gole, percebe-se notas herbais e terrosas de lupulo. Continua com frutas escuras, malte defumado e finaliza com notas amargas que persistem no aftertaste.

Corpo mediano a alto, com carbonatação aveludada. Mouthfeel viscoso e suave.

Boa cerveja mas achei-a um pouco defumada demais. As notas vinhosas e azedas remetem ao vinho do  porto e ficaram interesantes. Porém, gosto mais das minhas imperial stouts tendendo pro lado de malte torrado, café, chocolate e baunilha. Ainda assim vale muito a pena ir atrás dessa aqui.

Teor Alcoolico: 11.0%
IBU: 80


A harmonização com a torta de chocolate e noz pecan ficou excelente. Não tem muito como errar harmonizando imperial stouts com chocolate.

Notas:


Aparência: 7/10
Aroma: 8/10
Sabor: 8/10
Sensação: 9/10
Conjunto: 9/10


Total: 8.2