quarta-feira, 28 de março de 2012

Abita Brewing Company



Pra quem um dia estiver viajando pelo sul dos EUA, especificamente no charmoso e interessante estado da Louisiana, o blog Cervejas Americanas recomenda uma visita a Abita (http://abita.com/), a principal micro-cervejaria da região - fica na cidade de Abita Springs, a cerca de 50 km ao norte de New Orleans.

Fundada em 1986 foi crescendo lentamente e em 1994 se mudou do local original (onde hoje funciona o brewpub) para uma grande fabrica com equipamentos modernos. Hoje é a 15a maior cervejaria artesanal dos EUA, produzindo cerca de 1.5 milhões de litros por mês. Atualmente, voce pode achar suas cervejas em 46 dos 50 estados norte americanos e também em Porto Rico.

O local original, onde hoje funciona o Brewpub

A Abita se especializa em cervejas de sabor mais suave, principalmente as lagers. Para tal, utiliza-se da agua vinda de poços artesianos que drenam de um famoso aquífero onde está localizada (Abita Springs), sendo que não ha nenhum tratamento da agua antes de ser usada na cerveja.

Ainda não tive a chance de visitar essa cervejaria, apenas provei suas cervejas. Imagino que seja uma ótima experiencia visto que a região de New Orleans possui a famosa culinaria Cajun, bastante temperada e apimentada, além  do clima que  é bem quente - todas boas razões para se visitar uma cervejaria e seu tasting room. As tours acontecem de quarta a sabado -  de quarta a sexta sempre as 2 pm e em quatro horarios a partir das 10 da manha nos sabados.



Outro aspecto bem legal dessa cervejaria é o seu senso de comunidade. Teve um papel muito importante nas recentes tragédias que assolaram a Louisiana como o furacão Katrina e o vazamento de óleo de 2010. Em ambas ocasiões, foram produzidas cervejas especiais que tiveram seus lucros revertidos para a reconstrução e recuperação da região.

Foto: thebeerinme.com

Abita Turbodog sendo servida em uma cena do seriado "True Blood"

A Abita produz 7 cervejas de linha (as chamadas flagship beers), 5 seasonals, 3 harvest ales (feitas com ingredientes locais como nozes pecan e morangos) e 4 big beers (estilos mais alcoolicos em garrafas maiores). Tive a oportunidade de provar 3 das 7 flagship beers dessa cervejaria. Segue abaixo as minhas impressões e um pouco da história de cada cerveja:


Purple Haze:


A Purple Haze é uma cerveja de trigo que tem adição de puré de framboesa após a filtragem, o que a confere uma cor arroxeada pálida e turva, as vezes até com alguns pequenos pedaços de fruta em solução.

No copo, tem coloração amarelo escura com algumas tonalidades de violeta e bastante turbidez. A espuma é branca e persiste por um bom tempo, com media a baixa retenção nas laterais. Definitivamente não é a cerveja mais bonita do mundo.

Aroma é uma mistura de cereais, pão e grãos/malte com notas frutadas doces de framboesa, bem como algum aroma meio metalico/mineral pairando em segundo plano. O aroma da framboesa não chega a ser intenso como nas Framboises da vida (Lindemans, Bachus, etc) mas ainda assim é bem perceptível e bem inserido.

O sabor inicial é justamente o da framboesa, bem pouco doce e levemente azedo. Maltes de trigo e notas de pão/cereais aparecem na sequencia, seguidos por um amargor discreto. O aftertaste é mediano e tem uma combinação das notas de pão com as notas agridoces da framboesa.

Corpo bem baixo e mouthfeel aguado e leve. Os sabores estão la mas não ha qualquer tipo de corpo. Carbonatação alta assim como o drinkability.

Essa cerveja não é muito bem "avaliada" nos EUA, mas podem falar o que quiserem, não tem como negar que é leve, facil de beber, refrescante e muito agradável com pratos doces e sobremesas.  Acho que faria sucesso no Brasil.

Teor Alcoolico: 4.2%
IBU: 13
Preço: 2,00 dolares na loja.

Notas:

Aparência: 6/10
Aroma: 8/10
Sabor: 7/10
Sensação: 6/10
Conjunto: 8/10

Total: 7.0




Restoration Pale Ale:


Essa american pale ale foi criada nas semanas seguintes a grande tragedia do furacão Katrina que devastou o estado de Lousiana. Milagrosamente a cervejaria ficou praticamente intacta e então para retribuir essa "benção" foi decidido que seria feita uma cerveja para ajudar a angariar fundos de reconstrução da região. A Restoration, como sugere o nome, conseguiu arrecadar impressionantes 550.000 dolares!

É feita com maltes pale, lager, crystal e cara-pils; lupulada com Cascade e fermentada com a levedura California Ale.

Coloração amarelo escura, levemente turva. Forma colarinho branco cremoso e abundante que apresenta ótima retenção e persistencia.

Aroma inicial de malte, cereais e pão seguidos de notas florais / pinhais e frutadas no final.

Sabor de pão e biscoito seguido por presença delicada de lupulo, principalmente com notas citricas, terrosas e herbais, mas nada muito intenso. Leves doses de amargor vêm em seguida contribuindo para um final seco.

O corpo é bem baixo, a carbonatação é mediana e o mouthfeel bem clean. Alto drinkability nessa pale ale. Uma excelente session beer.

No geral ela cumpre seu papel como uma cerveja simples e bem feita, ideal para ocasiões não especiais e consumo em medias a grandes quantidades!

Teor Alcoolico: 5.0%
IBU: 20
Preço: 2 dolares na loja


Notas:


Aparência: 8.5/10
Aroma: 6/10
Sabor: 7/10
Sensação: 7/10
Conjunto: 7.5/10


Total: 7.2



Turbodog:


Diz a lenda que no aniversario de 5 anos da Abita, trouxeram um cervejeiro do Reino Unido para fazer uma cerveja comemorativa que seria uma english mild brown chamada de Old Dog Ale. Após a produção, a cerveja acabou ficando bem mais encorpada e saborosa do que o esperado. Foi então decidido que o nome "cachorro velho" não seria muito adequado, parecia mais que aquele cachorro tinha sido "turbinado". Daí veio o nome Turbodog.

Essa dark brown ale é feita com maltes pale, crystal e chocolate e lupulada com Willamette.

Verte liquido marrom bem escuro, quase preto, com algumas notas avermelhadas quando olhada contra a luz. Forma colarinho marrom-claro de dois dedos que persiste por alguns minutos e se reduz a uma fina película que paira sobre a superfície da cerveja durante o consumo. Retenção é acima da media.

Aroma decepcionantemente fraco com apenas algumas notas de malte torrado e nenhuma complexidade.

O sabor ja é mais intenso e tem notas de malte escuro, caramelo e chocolate. Finaliza com um pouco de amargor vindo do lupulo e da torrefação. Final mediano com aftertaste leve e torrado.

Corpo mediano a leve, com carbonatação mediana. Mouthfeel clean e unidimensional, com alto drinkability.

No geral outra boa session beer da Abita. Pra mim parece bastante uma Schwarzbier (lager) devido a fermentação clean, sem nenhum composto frutado ou ester detectavel por mim. Bem feita porém pouco complexa.

Teor Alcoolico: 5.6%
IBU: 28
Preço: 2 dolares na loja.


Notas:

Aparência: 8/10
Aroma: 6/10
Sabor: 7/10
Sensação: 6/10
Conjunto: 8/10

Total: 7.0

segunda-feira, 19 de março de 2012

Flying Dog Wildeman Farmhouse IPA



A mais nova cerveja da Flying Dog é uma homenagem ao bar de cervejas "In de Wildeman"(http://www.indewildeman.nl/index.php?lang=en&page=0) que funciona em um predio de uma antiga destilaria, em Amsterdam, na Holanda.

O famoso bar pediu a cervejaria americana baseada em Frederick MD que fizesse uma cerveja comemorativa do seu aniversario de 25 anos, para ser servida exclusivamente em suas dependencias. O desafio foi aceito e a leva inicial foi produzida em pequena escala e engarrafada em formato de 750 ml. Lembro bem que durante a minha visita na Flying Dog (http://cervejasamericanas.blogspot.com.br/2011/07/visita-flying-dog.html), o guia me falou que esta cerveja estava no tanque e que estava sensacional.

A primeira leva da cerveja. Foto: DCBeer.com

O tempo passou e o resultado foi bom, a cerveja fez sucesso na Holanda e em algumas degustações exclusivas na região de Washington DC. Com isso, a Flying Dog decidiu produzi-la de novo e comercializa-la em larga escala nos EUA, agora no formato habitual de 355 ml e também na pressão.

Segue o comercial bizarro, bem "a la Hunter S. Thompson", que a cervejaria fez desse novo rotulo:




Mas vamos a cerveja:


No copo, verte uma coloração laranja dourada, quase totalmente cristalina. O colarinho de um dedo é branco e cremoso, mas desce rapidamente com media retenção lateral.

O aroma é uma mistura de citricidade com especiarias. Começa com uma pegada bem cítrica e pungente com notas de urina de gato (isso mesmo) que apesar de parecer um termo estranho é um classico descritor usado para designar aromas de lupulo fresco, geralmente da variedade Simcoe. Segue então com notas aromaticas e herbais de tempero, principalmente coentro e alecrim. Também é possivel perceber notas mais florais e terrosas.

O sabor inicial vem do malte, com caramelo e candy sugar. Logo os lupulos aparecem novamente com a citricidade dominando - notas de grapefruit e limão são as mais aparentes. Especiarias vem em seguida com coentro, cravo e alecrim. Ha uma nota meio "funky" também pairando pelo sabor da cerveja: É dificil de definir, não é exatamente um Brettanomyces eu diria que cai mais pra um sabor de couro (leathery) . Finaliza com bastante amargor que aparece com algumas notas de pimenta.

O corpo é mediano também com carbonatação mediana. Mouthfeel seco e um pouco adstringente no final, pela alta lupulação. O aftertaste é basicamente amargor com leves notas florais e spicy.

No geral essa é uma cerveja bem diferente da maioria. Lembra um pouco as Belgian IPAs mas eu acho que ao invés de "Farmhouse IPA" poderia ser melhor definida como uma "Saison com lupulagem extra". O principal ponto positivo foi a secura dela, o que possibilita um alto drinkability apesar do moderado teor alcoolico. Mas tenho que confessar que esse intercambio entre lupulos americanos e fermento belga não me apetece, prefiro esses componentes fazendo seus papéis separadamente.

Teor Alcoolico: 7.5%
IBU: 75


Notas:


Aparência: 7/10
Aroma: 7/10
Sabor: 6/10
Sensação: 8/10
Conjunto: 7/10


Total: 7.0

quinta-feira, 8 de março de 2012

Beer Madness 2012

Pra quem não sabe, o mais emocionante e um dos mais assistidos campeonatos esportivos nos EUA são as finais do basquete universitario. Os times jogam entre si em suas conferencias durante a temporada regular e , baseado em sua performance, os 64 melhores times compõem o "bracket" - que nada mais é do que uma grande chave de "mata mata", dividida entre as 4 regiões do país. Os 4 times que vencem as suas respectivas regiões vão para o final four, um quadrangular final que definirá o campeão nacional. Todos esses emocionantes confrontos se dão no mes de março, fato conhecido como "March Madness".
Tradicionalmente, todo mundo faz suas previsões antes do campeonato começar e rolam muitas apostas entre grupos de amigos, de trabalho ou mesmo na internet, mesmo porque a chance de acerta-lo completamente é mínima e muitas "zebras" sempre acontecem. Segue abaixo o Bracket que o presidente Obama fez ano passado:



Bom, mas o que isso tem a ver com cerveja?

Tem a ver porque o Washington Post, um dos principais jornais dos EUA e do mundo começou, meio que de brincadeira, a organizar anualmente o "Beer Madness" - uma competição similar a do basquete universitario, que também acontece agora no mês de março.

Esse ano as regras mudaram um pouco, são apenas 32 cervejas exclusivamente americanas e disponíveis durante o ano inteiro em garrafa ou lata (não vale as que só saem em chopp) na macro-região de Washington DC, o que também inclui os estados de Maryland e Virginia.

Foto: Washington Post

Os 32 rótulos são então divididos em 4 categorias que levam em conta a característica principal da cerveja (Fruit and Spice, Roast, Hop e Crisp). Nove jurados (4 "profissionais", 4 leitores e 1 tie-braker, que é o crítico de cervejas do jornal) fazem então as degustações cegas de duas a duas cervejas, sempre escolhendo a melhor em cada confronto. As ganhadoras vão então avançando na chave até que se coroe as 4 campeãs, uma de cada categoria. Por fim, no final four os jurados escolhem a melhor cerveja. O resultado é então arquivado e divulgado aos poucos, conforme o campeonato de basquete vai se desenrolando. Todo esse processo acontece no excelente bar Churchkey e é organizada por Greg Engert, um dos Beer Sommeliers mais famosos dos EUA.


Além da competição oficial, os internautas também podem votar em suas preferidas a cada confronto. Para votar, basta clicar neste link: http://www.washingtonpost.com/beer-madness

Dei uma resumida nas cervejas competidoras abaixo. Algumas inclusive passaram aqui pelo Blog, outras eu provei mas não postei, outras eu ja tinha ouvido falar mas nunca provei e por fim, algumas eu nunca tinha ouvido falar. Segue a lista:

foto: Washington Post

Fruit and Spice:

Cervejas cujas características de aroma e sabor vem principalmente do fermento e seus subprodutos ou então de temperos adicionados.  As oito escolhidas desse ano foram:

1) Optimal Wit, uma belgian white da Port City brewing de Virginia

2) Dreamweaver, uma hefeweizen da Troegs, de Hershey PA (http://cervejasamericanas.blogspot.com/2010/06/troegs-dream-weaver-wheat.html)

3) Rayon Vert, uma pale ale com Brettanomyces, da Green Flash da California

4) Saison Rue, uma Saison com malte de centeio, da The Bruery tambem da California

5) Exit #4, a campeã do ano passado, uma Tripel com lupulos americanos, da Flying Fish de New Jersey.

6) Brooklyn Sorachi Ace, disponível no Brasil, uma Saison com lupulo japones da Brooklyn Brewery (http://cervejasamericanas.blogspot.com/2010/10/brooklyn-sorachi-ace.html)

7) Three Philosophers, uma Quadrupel blendada com Kriek, da Ommegang de Cooperstown NY (http://cervejasamericanas.blogspot.com/2010/03/ommegang-three-philosophers.html)

8) Siamese Twin, uma Dubbel com capim-limão, da Uncommon Brewers da California.


Roast:

Cervejas com características mais pesadas de malte torrado, café, chocolate, melaço, etc. As oito são:

1) Lucky 7, uma Robust Porter da Evolution Brewing, de Delaware.

2) Maui Coconut Porter, uma Porter com coco queimado, da Maui brewing co. do Havaí.

3) Allagash Black, uma Belgian Stout da Allagash, de Portland Maine (http://cervejasamericanas.blogspot.com/2010/03/allagash-black.html)

4) Existent, uma dark Saison, da Stillwater artisanal Ales, cervejaria cigana.

5) Sierra Nevada Stout, uma Stout da Sierra Nevada, de Chico California.

6) Schlafly Oatmeal Stout, uma Stout da Schlafly, de Saint Louis, Missouri.

7) Sublimely Self Righteous Ale, uma Black IPA da Stone de Escondido California.

8) Black Lightning, outra Black IPA da Duclaw Brewing, de Mariland.


Hop:

Cervejas com características predominantemente lupuladas.  São elas:

1) The Public, uma IPA da novíssima DC Brau, de Washington DC.

2) New River, uma Pale Ale da Lost Rhino Brewing, de Virginia.

3) Wildeman Farmhouse IPA, uma IPA com levedura selvagem, da Flying Dog de Mariland (em breve aqui no blog) .

4) Belgo, uma Belgian IPA da New Belgium Brewing de Colorado.

5) Red's Rye PA, uma IPA com centeio, da Founders Brewing, de Michigan.

6) Righteous Ale, outra IPA com centeio da Sixpoint Brewery, estado de NY.

7) Maximus, uma imperial IPA da Lagunitas, de Petaluma California (http://cervejasamericanas.blogspot.com/2010/12/degustacaozinha-horizontal-de-double.html)

8) Burton Baton, um blend de Imperial IPA com Old Ale maturada em barris de carvalho, da Dogfish Head de Delaware (http://cervejasamericanas.blogspot.com/2011/12/visita-dogfish-head-parte-2-rehoboth.html)


Crisp:

Cervejas mais leves, com sabor menos extremo e por isso mais delicadas porém igualmente complexas. As oito:

1) Fordham Helles, uma Helles lager da Fordham Brewing, de Delaware.

2) Bell's Lager, uma pale lager da Bell's Brewery, de Michigan.

3) Elliot Ness, uma Vienna Lager da Great Lakes Brewing, de Cleveland Ohio.

4) Festie, uma Marzen/Oktoberfest lager feita pela Star Hill Brewery, de Virginia.

5) Prima Pils, uma German Pilsener da Victory Brewing, de Pennsylvania (http://cervejasamericanas.blogspot.com/2010/12/victory-brewing-company.html)

6) Joe's Premium American Pilsener, da Avery Brewing de Colorado

7) Small Craft Warning, uma Imperial Pilsener da Clipper City/Heavy Seas de Baltimore, MD.

8) Coney Island Sword Swallower, uma Pilsen bem lupulada da Schmaltz Brewing de NY.


Outra interpretação grafica bem legal da competição pode ser vista aqui: http://www.washingtonpost.com/lifestyle/food/beer-madness/2012/03/06/gIQA9Xs4uR_graphic.html

E aí ja votaram? Que vença a melhor.