sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Anchor Christmas Ale 2010

Pegando carona no clima de final de ano, resolvi fazer este post falando da cerveja sazonal de natal da Anchor, a "Our Special Ale" também muitas vezes conhecida simplesmente como Anchor Christmas.


Ela vem sendo produzida por essa classica cervejaria artesanal de São Francisco, California, desde 1975. Todo ano a receita é diferente, porém com algumas particularidades - É sempre uma Winter Warmer (BJCP categoria 21B) escura não muito alcoólica e recheada de especiarias porém com uma boa dose de misterio: Não se fala exatamente quais e quantas especiarias ou maltes foram usados em cada leva. 

Outra coisa que muda todo ano é o rótulo. Obrigatoriamente ele tem uma árvore verde bem no meio, porém o tipo de arvore muda a cada nova receita. A versão de 2010 levou a espécie Ginkgo Biloba e curiosamente foi a primeira vez em 36 anos em que o nome cientifico da arvore não saiu no rotulo. Aconteceu devido a uma proibição pelos orgãos reguladores que ficaram com receio de que isso pudesse levar alguém a acreditar que a cerveja possuísse o remedio de mesmo nome em sua receita. A versão desse ano de 2011 tem a arvore Bristlecone Pine no rotulo.

Todos os 36 rótulos até o de 2010


Consegui essa cerveja como um presente do meu irmão Patrick, que por sua vez a ganhou de um americano em visita a Cervejaria Colorado.  Para melhorar as coisas a cerveja era a versão em garrafa Magnum de 1,5 litros. A tomamos no início de abril de 2011 para comemorar o aniversário do meu pai, portanto cumprindo a sua função festiva e agregando toda a família.

 Com a "belezinha" de 1 Litro e meio!


Aqui vai um video falando dessa cerveja e resumindo bem tudo o que eu escrevi acima: 




Mas vamos a cerveja:




Verte líquido de coloração marrom-escura, quase negra, com raios avermelhados quando olhada contra a luz. O colarinho é cremoso e abundante, de cor beige, persistindo bem por uns 2 minutos até descer para uma densa camada de espuma que fica na superficie. A retenção fica acima da média.

Aroma interessantíssimo que mistura lúpulos cítricos, notas frutadas (uva-passa, ameixa, damasco e frutas cristalizadas), especiarias (canela e cravo) e um final maltado com grande presença de chocolate.

Sabor inicial de malte escuro torrado, caramelo e chocolate. Segue com notas de especiarias e frutas, principalmente tabaco, uva passa e frutas cristalizadas (panetone). Tênues notas lupuladas florais e pouco amargor finalizam.

O corpo é surpreendentemente medio a baixo e o drinkability é alto, mesmo com todas as especiarias ela não chega a ser enjoativa. A carbonatação é leve e aveludada e o mouthfeel relativamente seco devido a adstringência dos maltes escuros.

No geral é uma cerveja muito peculiar e divertida, com corpo leve e sabores intensos e complexos. Sem dúvida um excelente acompanhamento para pratos natalinos com especiarias.

Teor Alcoolico: 5.5%





Notas: 


Aparência: 9/10
Aroma: 8/10
Sabor: 7/10
Sensação: 8/10
Conjunto: 7/10


Total: 7.8

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Visita a Dogfish Head parte 2, Rehoboth Beach DE

A fachada do Brewing & Eats

Saindo da cervejaria em Milton, são cerca de 20 min / meia hora de carro até a simpatica cidade praiana de Rehoboth Beach, que basicamente tem uma avenida principal (Rehoboth Ave.) perpendicular a praia, onde há inúmeros hotéis, restaurantes e, mais ou menos no meio dela a direita, no numero 320, o Brewpub da DFH, que foi onde tudo começou.

Placa no estacionamento do Brewpub

Na parte de fora do brewpub tem o estacionamento e uma pequena lojinha/balcão onde se compra produtos da marca Dogfish Head e, é claro, as cervejas em caixa ou six-pack "to go".

Porta de entrada a esquerda e a loja/balcão a direita

Cheguei na hora do almoço e mesmo sendo no meio do inverno o lugar ja estava bem lotado. Coloquei o nome na lista de reserva e não esperei muito para conseguir uma mesa no segundo andar.

O bar é aquilo mesmo que a gente ve nos episódios de Brewmasters - Piso de madeira, telhado rústico, canoas no teto, mesas e balcão cheios, e uma atmosfera familiar e de camaradagem pairando no ar. Seguem algumas fotos do andar de baixo:





 Ao subir para o segundo andar nota-se uma curiosidade: os degraus da escada têm cada um o nome de uma variedade de lupulo!


Ja devidamente sentado no andar de cima, pude notar algumas mesas de sinuca, dardos, o mesmo ambiente familiar e a destilaria da Dogfish. Isso mesmo, além da cerveja eles fazem in loco ali no segundo andar os spirits ou destilados: rum, vodka e gin (http://www.dogfish.com/brews-spirits/the-spirits/index.htm).

Vista da minha mesa

Mas vamos ao que interessa! Com o menu em mãos me decidi a pelo menos provar todas as cervejas possíveis, além da comida é claro, que também é muito elogiada.


O que você beberia primeiro?

Além das cervejas aí do menu, as mais interessantes eram aquelas exclusivas do brewpub. Segue a minha ordem de degustação. As avaliações foram feitas no meu celular no site do beeradvocate no momento do consumo e traduzidas para o português posteriormente. Aliás, se alguém quiser ler todas as minhas avaliações por lá, podem acessar o meu perfil aqui

http://beeradvocate.com/user/profile/paulozanello


Vamos as cervejas:



75 minute IPA / Johnny Cask



Essa cerveja é na verdade um blend da 60 min e da 90 min IPA. Melhor ainda, foi servida on cask (hand pump) de madeira com maple syrup em seu interior, além de um dry-hopping com cone-flowers de cascade (http://www.dogfish.com/community/news/press-releases/dogfish-announces-75-minute-ipa-simul-cask.htm)

Coloração dourada escura e alaranjada com espuma branca cremosa que perdura por um bom tempo. A retenção é fenomenal.

O aroma é de lupulos cítricos leves, com fortes notas de carvalho, madeira e maple syrup.

O sabor é muito diferente do esperado para uma IPA: começa com malte escuro e caramelo, lupulos frutados e em seguida notas dominantes de madeira com maple syrup. Como manda o figurino ela foi servida do barril de madeira a 13 graus, o que ajudou muito a realçar o sabor.

Corpo mediano com carbonatação baixa.  Mouthfeel aveludado e macio, com alto drinkability. Tomei um pint como se fosse água.

No geral uma IPA completamente diferente da 60 ou 90 minute, com ênfase na madeira e no maple syrup.  A baixa carbonatação, a temperatura e a forma de servir (pela hand pump) a deixaram espetacular. Foi a melhor (e ironicamente a primeira) cerveja de toda a visita a DFH.

Teor Alcoolico: 7.5%



Notas:

Aparência: 9/10
Aroma: 8/10
Sabor: 9/10
Sensação: 10/10
Conjunto: 9/10

Total: 9.0



My Antonia


Foto: beerandsausage.wordpress.com

Essa é a unica lager feita pela Dogfish Head. Mas como não poderia deixar de ser, não é uma lager comum e sim uma Imperial Pilsner com adição contínua de lupulos (estilo 60/90/120 minute IPA), em uma colaboração com a cervejaria italiana Birra del Borgo, feita pela primeira vez inclusive la na Italia, e posteriormente (2010) também nos EUA.

Coloração amarelo alaranjada e um pouco turva. Forma pequeno colarinho branco que desce rapidamente a apenas uma fina camada nas laterais do copo. A retenção é mediana.

Aroma é bem "clean" com malte e cereais seguidos de um perfumado lupulo com características mais frutadas e florais.

Sabor inicial novamente com malte pilsen, pão e cereais, seguido de lupulos frutados, spicy e florais/aromaticos. Finaliza relativamente seca com notas levemente amargas.

O corpo é mediano com um mouthfeel cheio e rico, malte e lupulos devidamente equilibrados, e moderada carbonatação.

Uma interessante Imperial Pilsener cheia de sabor e facil de tomar. Gostei do perfil dos lupulos e também dos maltes. Apesar do alto teor alcoolico, também tomei ela rapidamente. Baita cerveja, vale a pena ir atrás ja que agora a garrafa de 750 ml pode ser facilmente encontrada pelos EUA.

Teor Alcoolico: 7.5%


Notas:

Aparência: 7/10
Aroma: 8/10
Sabor: 9/10
Sensação: 8/10
Conjunto: 8/10

Total: 8.0



Burton Baton


foto: dailybeerreview.com

Essa cerveja é uma combinação de uma Imperial IPA com uma Old Ale, ambas fermentadas separadamente e posteriormente blendadas e maturadas por 1 mês em um dos tanques de madeira.

Coloração dourada escura com tons rubi, levemente translucida. Forma abundante colarinho branco bem cremoso que apresenta excelente persistencia e retenção.

Aroma de lupulo cítrico, malte caramelo e um pouco de baunilha. Agradável porém pouco intenso.

Ja o sabor é incrível: começa como se fosse uma IPA com notas lupuladas cítricas e frutadas, seguindo-se então uma avalanche de notas adocicadas de baunilha e madeira, finalizando com malte torrado, chocolate e café.

Corpo medio a alto com carbonatação mediana. Finaliza deliciosamente com as notas amargas dos lupulos se equilibrando bem com o adocicado da baunilha e as notas de carvalho.

Cerveja sensacional, um belo "twist" no ja batido genero das american IPAs acrescentando complexidade e drinkability. Foi a segunda melhor da noite atrás apenas da 75 minute IPA on cask.

Teor Alcoolico: 10%
IBU: 70


Notas:

Aparência: 8/10
Aroma: 7/10
Sabor: 9/10
Sensação: 8/10
Conjunto: 9/10

Total: 8.2



Red and White





Essa é uma Imperial Wit que leva em sua receita, além dos ja tradicionais coentro e cascas de laranja, suco de uvas pinot noir antes da fermentação. Após  a fermentação uma porção da cerveja é então maturada em um dos tanques de madeira.

Coloração avermelhada rubi e cristalina. Forma pequena espuma de cor branca que dura por muito pouco tempo. A rentenção por outro lado é ótima.

Aroma remete a alguns perfumes (bem floral) e frutado, possivelmente em decorrência do fermento. As frutas que predominam são as vermelhas, mas também há notas sutis de uva, coentro e laranja.

O sabor lembra bastante o aroma mas com intensidade maior: malte trigo e cereais, coentro, laranja e limão. Novamente em uma nota menor estão as frutas vermelhas como morango, cereja e uva. As supostas notas de madeira são indetectaveis por mim.

Corpo mediano com alta carbonatação. O drinkability ficou bem prejudicado e baixo, fato que a distancia bem das witbiers comuns.

No geral é sem duvida mais uma experiencia interessante e inovadora. Muitos sabores e aromas diferentes mas o resultado final ficou muito extremo e pesado, com baixo drinkability e pouca refrescância, ao contrario do esperado pelo estilo.

Teor Alcoolico: 10%
IBU: 35

Notas:

Aparência: 7/10
Aroma: 7.5/10
Sabor: 8/10
Sensação: 7/10
Conjunto: 7.5/10

Total: 7.4



Pangea



foto: thebeerdrinkerskitchen.com

Sem duvida uma das melhores ideias para uma cerveja ja perpetuada na industria: usar ingredientes de todos os continentes do mundo (daí o nome Pangea, que é nome do pré-histórico continente que posteriormente se dividiu e deu origem ao mapa como conhecemos hoje).

Portanto temos a agua da Antártida, gengibre cristalizado da Australia, arroz basmati da Asia, açúcar mascavo da Africa, quinoa da América do Sul, fermento da Europa e milho da América do Norte!

Coloração dourada e acobreada, bem cristalina, com colarinho branco que tem pouco persistência e retenção. Definitivamente faltou uma espuma mais densa e cremosa.

Aroma doce, principalmente de maltes, pão e cereais associado a muito gengibre e um pouco de laranja.

O sabor meio que segue o aroma mas com as notas de gengibre definitivamente dominando as outras notas de coentro, maçã,  laranja, mel e cereais.

O corpo é mediano com alta carbonatação. O aftertaste é aromatico e persistente, novamente com o gengibre predominando. Drinkability medio a baixo ja que após alguns goles ela acaba ficando muito doce e um pouco enjoativa.

Mais uma cerveja interessante, cheia de especiarias, principalmente o gengibre. Achei valido experimenta-la mas não acho que a compraria novamente.

Teor Alcoolico: 7%
IBU: 28




Notas:

Aparência: 7/10
Aroma: 7/10
Sabor: 8/10
Sensação: 6/10
Conjunto:7/10

Total: 7.0


120 minute IPA


foto: thecolumbuswench.wordpress.com

Sem duvida uma extreme beer, a 120 minute IPA é uma cerveja com quantidades imensas de lupulo e ainda maiores de malte. Tem gravidade de 45 plato e infusão continua de lupulos por 2 horas (daí o nome 120 minute). No fermentador, leva dry-hoppings diarios durante um mês e passa ainda mais um mês maturando em um tanque com lupulos em cone. Chamada por muitos de o "Santo Graal" dos lupulomaníacos!

Coloração laranja-escura e absurdamente turva, com colarinho escasso de cor branca que persiste por pucos segundos, deixando apenas uma película de espuma na superfície.

O aroma tem muito lupulo cítrico, notas doces de mel e malte escuro, discretas notas de madeira e um pouco de alcool volátil. A intensidade é algo impressionante.

Sabor inicial extremamente doce e grudento com melaço e marmelada. Segue-se então o sabor dos lupulos bastantes oleosos e citricos, com notas frutadas principais de tangerina, laranja e grapefruit - mas ainda assim o dulçor acaba prevalecendo sobre elas. Mais pro final alguns sabores de carvalho/madeira são um pouco perceptíveis. O aftertaste é finalmente um pouco amargo e "torrado" - imagine caramelizar uma Imperial IPA bem maltada em uma panela.

O corpo, como era de se esperar, é absurdamente alto, com carbonatação mediana. Drinkability baixíssimo, definitivamente uma cerveja de se bebericar. A porção ideal é mesmo um copinho de degustação de 100-150 ml.

No geral outra cerveja da DFH que tem que ser provada pelo menos uma vez. Ótima para bebericar em dias frios junto da lareira. Muitas pessoas discutem sua classificação como uma IPA, sugerindo que ela está mais para uma American Barley Wine. Eu diria que está mais para um Licor de Lúpulo.

Teor Alcoolico: varia de 15% a 21% conforme a receita.
IBU: 120 (independente deste numero, ainda é uma cerveja doce).

                                           

Notas:

Aparência: 7/10
Aroma: 8/10
Sabor: 8/10
Sensação: 6/10
Conjunto: 7/10

Total: 7.2


Além dessas ja raras cervejas, o brewpub ainda tinha mais duas receitas exclusivas que tinham sido feitas pela primeira vez. Não vou descrever as avaliações completas aqui (se quiser ve-las acesse o link delas no Beeradvocate.com).

A primeira delas era a "A Romantic Aromatic" (http://www.dogfish.com/brews-spirits/the-brews/brewpub-exclusives/a-romantic-aromatic.htm) uma IPA intensamente dry-hoppada com lupulos do noroeste americano e adição de fatias de limão secas. Lembro que era uma IPA pesadona de 10%, bem lupulada e que finalizava bem azeda e citrica por causa do limão. Talvez um tanto cítrica demais mas interessante mesmo assim.

A segunda e minha favorita foi a "Noble Rot" (http://www.dogfish.com/brews-spirits/the-brews/brewpub-exclusives/noble-rot.htm) uma Saison feita com maltes pilsen e trigo, duas variedades de lupulo e fermentada juntamente com uvas das variedades Pinot Noir e Viognier que foram infectadas com o fungo Botrytis (aquele que leva as frutas podres a ficarem cinzas). Este fungo é bem vindo em algumas variedades de vinho e da um "gostinho" a mais na fermentação. Lembro que a cerveja era deliciosa com bastante notas azedas e funky, finalizando bem spicy e aromatica devido ao fermento de saison. Excelente.